17 de dezembro de 2009

devires






as araucárias da serra fluminense
disputam a paisagem com
bananeiras.
não sei como vieram parar aqui:
nem as araucárias, nem as bananeiras.

há algo de bananeiras nas araucárias
e deve haver algo de araucárias nas bananeiras.

serra tropical é assim.
tropicalista.












14 de dezembro de 2009

alter-ego

Seu condinome era sabotador do trabalho. Era o terror dos grupos americanos fordistas, dos meritocratas, dos italianos, dos judeus, dos marxistas, dos reilgiosos e outros coletivos moralizados moralizantes. Em suma, era o pior pesadelo dos honrados em geral.
Seu método era o boicote.
Parecia mais indígena ou baiano, na medida em que o deitar na rede era uma de suas táticas. Mas não fazia isso heroicamente, como os tupis, tapajós, caigangues, tupinambás e outros ás és
ís ós ús o fizeram nos 1500 e se viraram nos 30 (sendo exterminados em massa, diga-se de passagem). Nada de heroísmos nem de macunaimadas. Fazia isso em nome de algo que sabia que não era só seu, de um coletivismo calado, assim como a voz de oprimidos avergonhados daquilo que queriam.
Como eles, ele queria a vagabundagem.
Empregava-se com incríveis boas referências e segue sendo um mistério como manteve sua reputação. Um gênio, sua estratégia de guerrilha era mesmo subterrânea, extremamente bem executada. Impecável.
Trapaceiro, comprometia-se com o maior número de atividades sobre as quais ele pudesse ocultar algo ou arrecadar falsas provas que jamais seriam descobertas como fajutas. A partir delas, simplesmente deixava de trabalhar.
Em verdade, seu modo de vida era bastante simples. Nada mais tinha como ética trabalhar o menos possível. Sabendo que isso não era nem aceito nem possível em um mundo no qual cada vez atarefava-se mais para ganhar-se menos, prezava o conforto e por isso mesmo driblava seus empregadores e pares.
Defendia-se dizendo que drible nunca foi ofensivo, se o ato objetivasse o gol. De fato, jamais deixou de atingir suas metas quantitativas e qualitativas nas firmas pelas quais passou. Dizia que traía não seus colegas ou chefes, mas a escravidão. E, por isso, não achava que estava fazendo nada de errado. O segredo de suas artimanhas advinha unicamente do fato de saber claramente que jamais seria compreendido.
Há quem lamente ele não ter podido sustentar sua ética.
Poucos anos depois foram sendo instituídas as colerias eletrônicas que conhecemos bem. Hoje, como todos nós, trabalhadores no planeta, ele também usa a sua, com o chip acoplado, o design de acordo com seu estilo de vestir (parece que a moda vai retornar aos anos 00 nesse verão). A câmera e o GPS denunciam com detalhes onde quer que ele vá, o que quer que ele faça, e tal controle está estendido a todos os que trabalham na organização que porventura o empregar - como naturalmente sabemos. O X9vismo virou
modo de vida, e isso não é novidade para todos nós em nossos tempos gloriosamente desenvolvidos. Foi o que buscamos e é o que logramos. E pensar que isso era usado somente para execução de penas alternativas lá por 2008, 2009!
O sabotador do trabalho perdeu qualquer possibilidade de existir.
Respiramos aliviados.

(Andei sabendo, porém, que ele, agora que está desempregado, anda pesquisando - com certa displicência inerente, como era de se esperar - a respeito de tecnologia de chips...)







4 de dezembro de 2009









você já PERDOOU alguém hoje?