23 de março de 2009

romantiquinha

pra nós todo amor do mundo
pra eles o outro lado
eu digo mal me quer
ninguem escapa ao peso de viver assim
ser assim

eu não, prefiro assim com você
juntinho
sem caber de imaginar
até o fim raiar

pan pan panapan
pam pam pa-papapapam

14 de março de 2009

encomenda





Ficou muito feliz em receber cartas. Adorava recebê-las, manuscritas, especialmente em tempos de cartas eletrônicas. Remetia-lhe à infância, quando via os doces na rua, pedia que sua mãe os comprasse, mas ela, italiana, dizia-lhe: "isso eu posso fazer em casa, filha. deixa que eu faço em casa pra você." Ou quando, na adolescência, costurava suas fantasias de carnaval, lantejoula a lantejoula, enquanto suas amigas chegavam no salão com aqueles figurinos prontos das lojas do centro.
Gostava disso, do artesanal. Adorara aquele último filme do Michel Gondry com o Gael García Bernal, cujo nome remetia a soninho, no qual tudo era feito pelos personagens com tecido e papelão. Gostara muito, até, de como inclusive os carros oficiais de polícia, na Índia, eram pintados à mão. Gostava,
quando criança, de fazer cartões de dia das mães com caixas de sabão em pó.
Agora deleitava-se em abrir os envelopes, desdobrar os papéis. Em uma das cartas, beijos de batom rosa com glitter. Noutra, frases diziam que a saudade é uma fogueira fora do lugar - e as folhas da carta vinham queimadas nas pontas. Adorara aquilo. Em outra ainda, uma caixa com uma camiseta personalizada de uma viagem que fizera há quatro anos atrás.
Talvez por isso - sim, era por isso - que começaria uma correspondência que - ela não sabia agora - mudaria sua vida.








precoce



foi tudo muito rápido.
meu corpo pedia por ele,
eu quente a olhá-lo da ponta da cama.
desejando-o.
queria espalhá-lo em mim.
ainda que pequeno, sabia que satisfaria minha ânsia por proteção.
queria-o tocando minha pele, queria senti-lo.
aproximei-me dele, o olhar ainda fixo.
peguei-o na mão.
cilíndrico, firme, tinha vontade de apertá-lo.

quando abri o tubo de Repelex, ele gozou na minha mão.








10 de março de 2009

menina bonitinha






Na minha cabeça foram surgindo frases que se pareciam a uma música de qualidade duvidosa, mas definitivamente era uma música. E aí ela foi se desdobrando, desdobrando, mais ou menos assim:


eu já vi você
em um tanto de vocês
eu não gosto de você
garota bonitinha
de beleza simétrica
garota da TV
garota da calçada
dos bairros da zona sul
garota genérica
eu não gosto de você
porque você é
genérica
cabelo igual
saia vista
saia da minha vista
seu rosto, seu olho, seu andar
normal
uma cor diferente
não pense que é suficiente
para ser toda diferente
sua timidez irrita
genérica
não quero garotas de chico
as garotas do colar comprido
de um litoral genérico
as garotas que se querem naturais
demais
cores pastéis
cabelo longo desbotado
genérico
liso ou crespo
enjoativo
tatuagens de catálogo
genéricas

eu não quero garotas de chico
quero a garota para a qual
não há compositor
garota de composição única
a garota sem revista
a garota da minissaia e do casaco comprido

eu quero uma garota com uma mente como um diamante
eu quero uma garota que saiba o que é melhor
eu quero uma garota com sapatos que machucam
e olhos que queimam como cigarro

eu quero uma garota bem-localizada
que seja rápida e perfeita e afiada como um prego
ela está jogando com suas jóias
ela está prendendo seu cabelo
ela está singrando o local
e escolhendo devagar

eu quero uma garota de minissaia e sobretudo

eu quero uma garota que levante cedo
eu quero uma garota que fique acordada até tarde
eu quero uma garota com prosperidade ininterrupta
que use um machete para se desvencilhar da burocracia

com unhas que brilhem como a justiça
e uma voz sombria como vidro fumê
ela é rápida, precisa e afiada como um prego
ela está singrando o local
e escolhendo devagar

I want a girl with a short skirt and a long jacket

eu quero uma garota sem problemas de falência
eu quero uma garota com bons dividendos
no banco da cidade nos encontraremos acidentalmente
começaremos a conversar quando eu a emprestar minha caneta

ela quer um carro com um descanso de braços com porta-copos
ela quer um carro que a faça chegar onde quer
ela está mudando seu nome de Kitty para Karen
ela está trocando seu Mg por um Chrysler LeBaron branco

I want a girl with a short skirt and a looooooooong, loooooooooong
jacket

nananana
nanananaaaaaana
nananana
nanananaaaaaana
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6 de março de 2009

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e a partir de hoje podem me chamar de "professora Alice"!



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5 de março de 2009

só pra dizer

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que hoje foi o melhor dia da minha vida, em termos de hoje.

sabe-se que dê-me uma bandeira e serei leal a ela até que eu não seja mais leal a ela (e tenho uma amiga igualzinha).

é, hoje eu queria dizer assim bem simples e direto: hoje foi o melhor dia da minha vida.
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2 de março de 2009