22 de agosto de 2011

Poema interrompido






Costura desbragada
Desfaz o caminho da perna da calça
Descalça a bota
Tira tudo tilintando
Tirana tez desencaminha a mão
Desta feita
Na testa escabelada
No meio
Meneia
Doida de tês

"Fecha os olhos"
(abre a bragueta)








8 de agosto de 2011

Ricardinha





Estou em Paris.
O metrô me transporta veloz e sujo numa sensação paradoxal de movimento e inércia.
Talvez pela velocidade, a sensação é de não estar ali.
Sou personagem de uma história de sexo drogas pornopaulicéias rock n´roll mpb e libertinagem.
Meu sotaque é outro, meu corpo é outro, talvez nem sejam e ponto, simplesmente assisto, amorfa, acorpórea (arbórea), a cena de cinema que vejo: o sujeito que fuma um hash fumegante alucinante na beirola do Sena, troca umas palavras em franglais com um certo Blue Eyes que não tem nada de Sinatra, trupica na própria sombra e se escafede dali invejando o rio ("este ao menos tem um lugar para onde sempre vai").



A viagem, purtroppo, acaba rápido.
O chiado no alto-falante (ou será o do sotaque da voz que fala no alto-falante?) me arremessa para a realidade do mundo dotado de superego em que vivo (vivemos). O metrô me cospe pra platô.

Volto ao tédio do meu corpo. Ao tédio do meu cabelo que não cresce. Ao tédio da minha sombra. Ao tédio da minha existência naquele minuto (ainda que, sagitariana ou bipolarmente, cinco minutos depois encontre a diversão de ser eumesma). Ao tédio (insisto) da carteira assinada, da cidade de poucas sombras, do dia-número-um-da-semana e da estação tropicalmente florida de idioma materno.
Fecho o dândi flanêur desmiolado chapado entre as capas moles do livro. Ao menos é Tom Zé no Circo quem marca a página.
Volto ao meu passo feminino enfiado em calças jeans, ainda que minha bunda de inverno relute em se acomodar nelas.
No entanto, talvez por teimosia, estou ainda agarrada ao que li, narrando minhas passadas físico-mentais.


Quem ainda me lê?


Tanto faz.