31 de janeiro de 2009

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Desculpa, computador, eu sei que tu nem é meu, e sei que acabei de te desligar, e sei o quanto isso de ligar e desligar te custa, mas é que quando eu tava ali na cozinha abrindo aquela geladeira mais ou menos nova que nem é minha também, quando eu tava abrindo ela, não, eu já tinha aberto, eu tinha recém visto a margarina light e a margarina não light, sabe, computador?, bem ali deu aquela coceirinha que começa no canto do olho, aquela que vem de fora pra dentro, aí parece que a retina arrepia, sabe, computador, e aí inunda tudo, e a visão fica embaçada, úmida, eu sei, eu sei, normalmente a margarina tá associada à felicidade, a gente até brinca que quem tem um esposo, um filhinho de olhos azuis na garupa dele e um labrador, todos correndo na praia, é uma família comercial de margarina, é que não é culpa da margarina, mas foi olhando pra elas duas, uma azul, light, a outra amarela, cremosa, foi por acaso, é que deu a coceira, o que eu vou fazer, não é culpa minha também, a minha boca até fez beiço, eu consegui me servir de suco de laranja e peguei a margarinha light pro meu pão, mas o que eu vou fazer, a coceira virou calor nos olhos e molhei minhas bochechas, no nariz também fiocu mais úmido, foi mal, computador, mas é que tinha que te contar isso, eu sei, eu sei, já tô indo pra parada na Cristóvão pegar o T2 e fazer a minha mala, tá, já tô indo.
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chili.

Tá. não sei linkar vídeos do youtube. Cari, Carol, me ajudem.

Chilinguino, esse é pra ti.

http://www.youtube.com/watch?v=L0KJutaEACI

Partes

Um dia estava na casa de uma, e usou sua toalha e seu xanpú, e sua panela e seu trigo para kibe, e puderam ver uma estranha Índia na novela. Ali esqueceu um casaco, um celular, uma máquina fotográfica, alguma passagem aérea, quiçá.
Noutro dia tava na casa da outra, e viu seu caderno de som e imagem e dormiu na sua cama e usou sua patente, e puderam rolar num papo traveiseiro em meio à ressaca. Ali esqueceu de mandar mais mensagens e algum "eu também".
No terceiro dia tava na casa de outra, usou seu computador, sentou em sua cadeira, comeu seu branquinho, usou seu sapato, foi escutada em seu desespero de provável fim de sorte em sempre ter saúde. Ali esqueceu um casaquinho e um obrigada.
Num outro esteve na casa de um, e comeu salada de mamão verde, e comeu seu recheio de panqueca e puderam passear com o cachorro ancião enquanto contavam parceiros sexuais. Ali esqueceu um óculos de sol e duas camisetas.
No último dia esteve na casa que era o oposto da sua, dormiu na cama dos pais dela, recuperou uns acessórios esquecidos e puderam desfrutar de álcool doce e chocolate de colher em meio a uma balbuciante dança de rendeiras. Ali esqueceu um bilhete.

Agora todos se foram. Uma pra praia, outra pra serra, outra pra longe, outro pra casa.
Sim, todos pra casa, lembrando que mesmo quem se satisfez na condição de mochilinha e errância tem uma casa, ainda que temporária e onde usa e come dos outros.

Foi à casa do outro lado da cidade, pois lá deixou de propósito vários livros, uma escova de dente e um champanhe. Com esse um bem bem diferente e cheio de pré-forças vai voltar pra casa tropical rever o que andou esquecendo de lá.

Secretamente e talvez não tão secretamente assim, torce pra que em breve todos passem por lá, usem seu fio dental, vistam seu pijama, sujem sua casa, lavem sua louça, comam sua massa peperonata. E se esqueçam de ir embora.








19 de janeiro de 2009

punta que nos parió

Fin del año en punta.
Bem longe de hippongagem. (Ok, a alguns quilômetros de acampamentos como no forte de santa teresa, pero igual lejos.)


Quatro dias de salto, maquiagem e champagne.

RElindo, REdivertido, REbueno (oh, sim, o que mais tinha era gente porteña, não creia que perdi o accento que agarré en Buenos Aires).


Pessoas que tomam banho de perfume, que têm lanchas, que pagam em dólar, que tomam champagne no happy hour (hohoho: como se houvesse um local de trabalho do qual se saísse depois...), que têm um modelito pra cada dia de praia, que comem caviar, que bebem clericot.

Por quatro dias, fomos um pouco mais delas e nos entregamos à ode à superficialidade.

E nem tanto: uma ode à possibilidade de curtir horas se arrumando pra sair, mas principalmente ode à diversão, ao carinho e à gentileza de nossos anfirtriãos, à amizade, à boa comida, à leveza, às media-lunas en el desayuno, à cerveza de litro, a la puesta del sol en casa pueblo, à virada de um intenso e pesado 2008 para um desintoxicado pero RErico dois mil e novos.


Tá bem, não resistimos, usamos flores na cabeça.


Daquelas de cetim, é claro, que são a última moda.
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