30 de abril de 2009

cantadas III (inspirado em Superméri)





Estava no calçadão de Copacabana, a vi de costas, pela janela da van que ia na direção do Leme.
Vindo para Ipanema, dois surfistões, barba por fazer, óculos esportivos, ambos montados em suas bikes, andavam em veocidade.
Pude, no que aconteceu a parada da van, forçada pelo engarrafamento, ouvir de leve. O som foi baixo, mas a gesticulação dos lábios dele foi fenomenal. Encheu a boca e disse pra moça: "Mas que coisa mais linda que você é", em um quase sorriso.

Só depois é que percebi a reação da moça - assim como atrasada foi a percepçao dela de ter sido cantada. Ela virou o pescoço, talvez incrédula, seu rosto beirando o narigudo. Era bastante pálida-sem-sal. Sorriu. Pela primeira vez vi uma mulher ser cantada, no meio da rua, com um tiro desses, cara-de-pau, e sorrir de presente para todos os eventuais espectadores em seus carros parados na Av. Atlântica.
O movimento dela já engatou num giro de corpo e ela atravessou a rua. Percebi que o sorriso teimou ainda a sair da face.

Talvez o surfistão tenha conseguido o que queria. Talvez ele seja, por isso, o ídolo de seu amigo e de tantos homens, que, supõe-se, querem que um dia algum efeito (fora caras de desprezo e a total indiferença) seja produzido com suas cantadas na rua.

*

Assim que desci da van e atravessei a rua, um velhinho veio na minha dreção. Quase fugi dele, afinal, quem era ele pra atravancar o meu caminho. Fixou o olhar, enquanto eu o ignorei. Disse, como se estivesse num salão de baile: "Olha, que bonitinha!" E abriu um baita sorriso, como se não se importasse com o gigante tabefe imaginário que proferi na cara dele.
Não consegui seguir braba. Aliás, o tabefe eu dei antes dele falar qualquer coisa, porque de fato ele parou e fez um elogio. E ponto. Comecei a rir. Não como aquela moça de cinco minutos atrás. Ri porque achei engraçada a desenvoltura do senhor. Foi de uma estranha cara-de-pau ingênua. Ri, não porque achei desprezível, e nem porque fiquei nervosa, e nem porque achei bonitinho.
Ri porque ri, ora. Ri porque...

Ah! Essa Copacabana...









12 de abril de 2009

de muda - II







desligou a janela brilhante.
mais um punhado de mensagens bem intensionadas porém incompletas.
cumpriu seu ritual de chorar antes de dormir.
sonhou com uma casa do outro lado do vale.
invejou o serrado.
debatendo-se com o calor gostoso da água salgada que cruzava seu rosto,
a água que um dia foi também casa,
mudou.
mudou-se.
não sabe bem. quando viu tinha virado vegetação do alto do morro e aquelas palavras da janela brilhante ficaram numa caixa linda de madeira.
guardadas para quem sabe um dia.

a água que via estava dentro da caixa d´água
numa praça ali perto.

agora debate-se com o não-ritual.





de muda

refez-se em tranquilidade inédita.
inventou um gosto que desconhecia.
o morno não lhe dava mais asco.
o suspiro foi tão sutil que mal a notou.
anotou uma lista de compras a dois:
sofá
mesa
TV
cadeiras
talheres
panos
esteira: postergável
almofadões: postergável
quadros: postergável
plantas: importante
lembrou-se do primeiro aniversário da orquídea quase morta.
ele a havia reavivado,
a orquídea.
e o que, então, a houvera feito mais viva?


aprendeu nesse dia a diferença entre intensidade e consistência.
cantarolou que bom encontro é o de dois.
sentiu-se inteira.
sentiu-se multidão.

10 de abril de 2009

i just can´t take it anymore



aceito receitas caseiras, simpatias, manhas, dicas naturebas, remédios transgênicos, muambas, macumbas, maracutaias as mais diversas. talvez usar um aspirador de pó ou uma draga - além do chá de gengibre, mel e limão, pastilhas valda, resfenol, sorinan, echynácea, vitamina C, naldecon, xarope natural de mel, eucalipto e própolis, suco de laranja, canja de galinha e muito, mas muito repouso que eu já tentei.

precisamos vencer juntos o maior e mais grudento inimigo dos sinusitantes crônicos:


O RANHO!









sometimes people can get dangerous


despite the swet and the corny lipstick, it was kinda an ok costume, innit?




9 de abril de 2009

Ela







Eu caminhava na Nossa Senhora de Copacabana, despretensiosamente, quando Ela apareceu.

Saiu de um edifício, de uma padaria, de um Mate-alguma-coisa, não sei. A lo mejor Ela simplesmente surgiu na calçada. Não me surpreenderia.
Fiquei a dois passos d´Ela, o que me permitia experimentar uma condição de câmera, destas que ficam logo atrás do personagem principal do filme (como em O Lutador). Ela não me via, mas eu via tudo o que ela via. E, principalmente, tudo - e todos - que viam Ela.
Nesse dia eu estava completamente apagada, nos meus 1,54m de altura, enfiada em uma calça de viscolycra preta, chinelas Hanavianas e camisetinha da Smurfete drogada (daquelas que se vê um zilhão iguais nas feirinhas de moda alternativas). Óculos escuros, uma bolsa enorme pendurada em um ombro e sacolão de plástico pedurado na outra mão, caminhava dramaticamente gripada, escabelada, atrasada e desbotada. Sim, uma brancura não dessas delicadas e bonitas, do século XVII, mas de uma mistura européia e de várias raças depois de um bronze de verão e recém entrada no outono.

Ela era negra retinta. Uma cor maravilhosa erguida em longas pernas musculosas, feito duas berinjelas bem desenhadas. Saíam redondas e lisas de um microshort jeans bem clarinho de extremo bom gosto. Vestia blusa branca sem mangas. Não é que tivesse um largo quadril violão emordurando sua bunda exasperadamente redonda, mas seu rebolado dicretíssimo dava a impressão de que tivesse. O cabelo ela levava preso displicentemente bem alto, os cachos pequeninos e descoloridos balançavam como molinhas. Não levava bolsa. Parecia ir comprar cigarros ou um pacote de biscoitos. Havia algo, no entanto, que a deixava muito elegante. Não sei se eram as argolas douradas ou o óculos escuros enormes, mas ela parecia dessas gringas de clipe de rap. E eu, naqueles dias em que o teu príncipe encantado não pode, de jeito nenhum, resolver aparecer. Ainda que o meu príncipe já estivesse em casa. Mesmo assim.

Da minha posição privilegiada, eu via tudo. Os homens a torcer seus pescoços. As mulheres a se espantar.
Existem dois tipos de mulher bonita, na minha opinião. O primeiro grupo é o das interessantes, as gatinhas, as que são olhadas, sim, mas o mundo segue seu rumo. Eu talvez faça parte desse grupo, nos dias em que não estou amarela nem enfiada em calças pretas de viscolycra. Gostosinhas, pitéuzinhos, graciosas, femininas, enfim, são os pontos aos quais podem chegar. Homens olharão, dirão algo. Algumas mulheres darão aquele olhar de cima a baixo, algumas um pouco inibidas, mas repararão. Desse tipo tem muitas, ainda mais no Brasil, ainda mais no Rio de Janeiro.
No entanto, tem uma outra categoria, e essa é para poucas. Muito poucas. Estas são as bonitas de parar o trânsito. Literalmente. São as que paralisam geral. São aquelas que metem medo, de tão avassaladora beleza. E isso, inevitavelmente, tem a ver com a altura. Elas geralmente são altas, pois é preciso se destacar das demais. Elas são sérias: jamais se verá uma dessas mulheres se rindo toda. Para essa, nem todo homem terá coragem de olhar. Alguns não passam do rosto. Escondem um medo sinistro de virar e olhar a sua bunda, como se ela própria tivesse olhos nas costas e os castigasse se isso acontecesse. Para estas, todas as mulheres olharão. Sem exceção. Simplesmente por serem a beleza mais unânime transitando pela rua.
E essa mulher era uma bonita de parar o trânsito.
Por isso, os homens hesitavam em olhar e, tanto eles quanto elas, semi abriam suas bocas quando a avistavam. Eram cenas realmente impressionantes. E eu, assistindo de camarote.

Mais uma quadra e tive que rapidamente avançar à frente d´Ela. Queria chegar inteira ao meu destino.

(Nunca mais saio com minha camisetinha da Smurfete.)









8 de abril de 2009

detalhe





ok.
acabo de me dar conta que agora pode ser que meus alunos me encontrem no google. e a primeira coisa que aparece é este blog.



não sei como desvinculá-lo da pesquisa do nosso amigo gugli.




eu juro que tenho um Lattes, e ele deveria aparecer na pesquisa do google, mas por algum misterioso motivo ele não aparece.











bueno.























olá, caro aluno. espero que eu não o decepcione.
esta também sou eu.















PS







(não sei se por ser muito lido por mulheres ou por ser lido por homens tímidos, mas...

por que ninguém comenta meus posts sobre futebol?)








7 de abril de 2009

Eu sempre gostei dela






QUEREM SABER? PRA MIM A PINTURA QUE FOI O GOL DE "LA BARBIE" COMPENSA QUALQUER DERROTA EM GAUCHÃO.

GLORIOSO TRICOLOR: RUMO AO TRI DA AMÉRICA.






web mad







Acabo de me dar conta que estou sendo contaminada por um vírus contemporâneo.

Nunca fui de entender nem de ficar muto na net. Nem de ficar muito nos livros, é verdade (ao menos não na minha adolescência), mas eles andam bem na frente, se isso fosse uma fila de coisas interessantes para Alice nesse momento da vida dela (leia-se depois de superar seu trauma de "eu não escrevo bem").
Acontece que meu envolvimento com trabalhos de marketing e pessoas que gostam de marketing e cool hunting e betas em moda e música e downloads e jornalismo global e ipods e intervenções artísticas contemporâneas e outros gadgets afins acabou me impulsionando a pesquisas de sites especializados em moda, música, brinquedinhos... além do 4shared pros textinhos do Foucault, é claro.
Agora acesso o Pronto. Cortei. e seus links, além do Carolinacos, é claro, e do Tuned into sound, que são quem me levaram pra esses maus caminhos, além da pesquisa com a Box 1824.
Me estragaram, mexeram no brotinho de plantinha que só precisava de um pingo pra desabrochar. Agora morro de vontade de ficar pesquisando tendências, estou num impulso incontrolável de cortar os cabelos, ando louca de vontade de cortar umas calças jeans velhas e transformá-las em sei lá o que, estou usando todas as roupas que estavam pianinho no meu armário ameaçadas pela mainstreamice carioca e sonho até com um blog "Pronto, pintei", eu que sou alucinada por esmaltes e vivo fazendo as minhas unhas eu mesma.

Pronto. Falei.







agora vai!


E então nos livramos dele.
Não no melhor momento, mas depois de 7 Gre-nadas dos quais empatou-se 3 e perdeu-se 4, qualquer momento é momento.
Alguns lamentaram. Não vou dizer que foi a melhor forma de decisão da diretoria, já que vínhamos também de uma decisão de última hora um tanto forçada aos jogadores, depois da derrota para o Caxias (leia-se jogar com os titulares a dois dias de um jogo de Libertadores). Mas também, vão aprender com Cruzeiro, São Paulo: os jogadores estão extenuados, sim, no entanto estão nas finais de seus regionais. E sim, meu time mesmo já ganhou Gauchão, Recopa e Brasileiro num mesmo ano, bem como Gauchão e Libertadores. O primeiro com o banguzinho. Tudo bem, os tempos são outros, o co-irmão está fortalecido e nosso time não é aquele de Felipão.

Ponderações feitas para os dois lados, a verdade é que respiro aliviada. Mais do que um treinador que não ganhou título nenhum com o Grêmio, dispensamos seu sintoma. Assim como o prolongamento do desejo dos pais acaba aparecendo no sintoma dos filhos, o sintoma de Roth estava aparecendo nos atletas. Eles ficaram abalados, mas certamente o superarão, a não ser que, como ele, não consigam gostar de ganhar. E digo mais: além de sintoma, é devir. Um devir concretado (um não-devir?) estava abafando o devir imortal e milagroso do tricolor. Parece que agora as coisas andarão. Afinal, o Grêmio sempre foi, em grande porcentagem, a sua torcida.

No mínimo, tem isso: no primeiro dia sem Celso Juarez Roth no comando técnico do Grêmio, o clube ganhou 400 novos sócios.
Precisa dizer algo mais?