30 de maio de 2006

A porra da psicanálise

Às vezes um charuto é apenas um charuto.
E o Freud devia se lembrar mais disso.

Tem dias...

... que simplesmente não dá!

27 de maio de 2006

Me viro

e os dias se estendem
e eu passo os dias
passo
sou de ferro
um passo
e acabo com o amassado
do que pode dar errado
sou de ferro
uma dobra
e eu me dobro
e eu me ferro

Distância fura

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tor.tura
dor.dura
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26 de maio de 2006

Susto



Jean quase me explodiu, mas Wolvie chegou a tempo de me salvar.

(O cigarro na mão é efeito especial.)

25 de maio de 2006

Berro

Então ficamos assim: o estado negocia seus interesses com os do Marcola, um homem poderoso, fino, que lê Dante Alighieri e tem muito dinheiro. Deixa em paz os superiores do Marcola que vivem soltos por aí, no Congresso talvez, ou abrigados em algumas secretarias de governo. Deles, pelo menos, a população sabe o que pode e o que não pode esperar. E já que é preciso dar alguma satisfação à sociedade assustada, deixemos a polícia à vontade para matar suspeitos na calada da noite. Os policiais se arriscam tanto, coitados. Ganham tão pouco para servir à sociedade, e podem tão pouco contra os criminosos de verdade. Eles precisam acreditar em alguma coisa; precisam de alguma compensação. Já que não temos justiça, por que não nos contentar com a vingança? Os meninos pardos e pobres da periferia estão aí pra isso mesmo. Para morrer na lista dos suspeitos anônimos. Para serem executados pela polícia ou pelos traficantes. Para se viciarem em crack e se alistar nas fileiras dos soldadinhos do tráfico. Para sustentar nossa ilusão de que os bandidos estão nas favelas e de que do lado de cá, tudo está sob controle.

Maria Rita Kehl

Recado

1)
"A Mayume ainda não tinha comprado a máquina dela, nessa foto"
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2) "Olha só as carinhas..."

Mutante por um dia



Quando ganhei as entradas, não pensei em outra pessoa pra convidar.
Então entrei de uma vez no clima e fui Alice Nunes Manenti por aquela noite: comi McDonald´s, fumei Marlborão, tomei Coca Cola e, é claro, adorei o filme. Ainda mais depois da entusiasmante aula sobre X-Men, Marvel e DC Comics antes da sessão.

Pronto. Agora preciso ver o I e o II.

23 de maio de 2006

É de extrema importância poder rasgar palavras, quebrar formas e atirar tudo pra cima, hoje em dia na minha vida. Misturar Foucault som Sócrates, intelectualismo com romantismo, escrita acadêmica com poesia. Não que dê sempre, mas então que seja alternado. Que nunca se feche, que muito se invente.

Sempre me lembro que quando criança eu queria ser pintora e que fazia redações de merda no colégio.
Hoje gosto de agridoce, Zeca Baleiro, Esquizoanálise. Gosto de usar roupas que a princípio não combinariam.

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Ainda aqui

Estou viciada em escrever. Dar sentido ao que é fluxo, o encontro do molar com o molecular. Ou é só o gosto de metralhar o teclado novinho aqui da Procuradoria.

(Já está quase na hora de escrinventar de novo, tô sentindo.
Tô quase no ponto, a chaleira tá chiando. É só me libertar do vício do trabalho, que por sinal não gosto de chamar de trabalho, isso que já me disseram que é meu amante. É que também dizer "Ministério Público Federal" ou "Procuradoria da República" é duro demais, é antipático demais, é direito demais, por isso eu não gosto (com todo respeito aos advogados e promotores legaizinhos que há, mas convenhamos que direito é uma chatice). Na verdade esses nomes não dizem por nada o que é estar aqui, fazendo o que faço. Por isso a escolha de uma forma de trabalhar em que se pensa e se faz pensar sobre e se sente.
Ô, como se sente.

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�lice

14 de maio de 2006

No segundo domingo de maio

La famiglia almoça no Sulina
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Mãe da mãe.

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Comilança, aquela coisa...

Roberta chora, aquela coisa...

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Ma certo! Il vino! Ho imparato da piccola con la nonna...

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...que aqui retoca a cor nos lábios, mais charmosos com o adorno do bigodinho de vinho.

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Mas depois de servidos, eis que passa de novo ela, tão bela, a costela...

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Disse o meu tio que não teve jeito: rolou uma química. O gentil garçon da costela - que já virava amigo da família - pousa com Paulinho, que arremata depois da torta de sorvete e do café. É carne e chá.

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Muchi e Lica. Só faltou tu, Zizita.

3 de maio de 2006

apenas um sonho, apenas uma fase

Meus sonhos, nas últimas semanas, têm me remetido muito à realidade. Não foi diferente na noite passada: sonhei com um lugar cinzento, portões, guris e gurias que estão ou que já estiveram no Projeto Abrindo Caminhos, onde eu trabalho, outros rostos inventados, técnicos, gente do Estação PSI. A minha orientadora acompanhava uma colega minha e eu, num labirinto de prédios e salas com um ar científico, azul e cinza, refeitórios, refletores, jalecos, testes, provas e papéis, ela sempre com uma expressão que mesclava brabeza com indignação e decisão, dizia "não, eu vou lá com vocês! isso não pode ser!" e nós caminhávamos, subíamos escadas, eu dizia "deixa que a gente vai, precisamos fazer isso" e ela "não, mas eu vou também", e eram câmaras nas quais se passava com roupas especiais e toucas, e se falava com outros funcionários que nos indicavam outras direções, e mais gentes psi iam nos encontrando, dali a pouco eram outros colegas, mais rostos inventados... O que era aquilo? A Prorext? A Universidade? Éramos nós à procura-exigência das bolsas de extensão que não recebemos este ano, estranhamente, depois de uma avaliação excelente no ano passado? Éramos nós passando por crivos científicos, fazendo mil caminhos para que o nosso Projeto acontecesse? Éramos nós escrevendo o artigo científico pro concurso nacional do CNPq sobre Juventude e Políticas Públicas? Ou então era a FASE? A Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul se confundiu com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O higienismo médico, a segurança, a educação, o moralismo, a lei, em forma de blocos de concreto e corrimãos de metal, achatavam-nos enquanto a gente-agente persistia em andar e andar, era um não encontrar o fim, era uma resistência. Mas onde era a saída? Chegamos a um salão-pátio. Era como se todos ali desaguassem das escadas-cascatas. E houve um encontro indignado. E houve comentários. E houve uma despedida daqueles jovens "da FASE".

Hoje fomos a um lugar que me afetou.