11 de agosto de 2006

Sujeito do suposto saber

Sempre escutei dos outros falarem que seu psicólogo ia dar uma palestra não sei onde, o outro que viu o seu num evento tal, um que encontrou num jantar ou dando uma aula. Sempre tive uma inveja. Eu nunca vejo a minha terapeuta assim, no ambiente dos humanos. Seria tão bom encontrá-la, conversar algo entre goles de vinho. O que conversaríamos?
Falaria de como está sendo morar sozinha, das minhas descobertas e do que não é novidade. Lá pelas tantas eu diria que o vinho era muito bom. Ela perguntaria se existe alguma lembrança da minha infância relacionada a isso. Eu diria que sim, a minha vó me dando vinho na boca, eu aprendendo a caminhar. Talvez ela, no final da conversa, fizesse metáforas sobre o vinho, o nosso encontro, minha vó, a vida adulta, o estar sozinha, o princípio da realidade, o Dionísio. Talvez ela pontuasse algo a respeito da repetição, talvez eu discordasse, bêbada, ela falasse de resistência, eu ficasse braba, e ela dissesse "hoje ficamos por aqui".
*****
Fazendo meu primeiro rancho oficial, com meu carrinho de dois andares, no Záffari Higienópolis, depois de degustar queijo, pão, bolo e suco, eis que passa bem na minha frente, saindo das frutas e entrando no corredor de detergentes: ela, minha psicóloga. Chamo-a, beijinhos, "como estás?", eu fico imaginando o que dizer assim, pra terapeuta, no supermercado, depois dessa pergunta. "Tô bem!". "Ah, então, fazendo o super? Morar sozinha é isso também, né?" Por algum motivo, não quis mais conversar. Estranho falar de si sem o sigilo do consultório, diante de caixas de Omo. Pensando bem, não invejava mais quem via seus terapeutas em ambientes normais. Fiquei nervosa: a minha eu vi do jeito mais pessoa que há. No super. No meu super.
Não quis ver o que ela levava no carrinho. Ao contrário, talvez pela tendência das coisas, comentei sobre o que tinha no meu. "É, comprando aqui... queijos, pão, patê...". Patético.
Nos despedidmos: "Até..." . O que seria completado no consultório com "...semana que vem", ficou em aberto. Afinal, sabe-se lá, agora é capaz de nos encontrarmos até no trânsito.
Humpf.

7 comentários:

carilevi disse...

numa barberagem de trânsito..

eu tive um terapeuta, por duas consultas iniciais, ele disse que eu não tava louca e que não era caso de internação e me recomendou outro psiquiatra (achei ele muito guri e o principal motivo da troca era de que: imagina encontra-lo numa festa da medicina!)
neste intervalo entre marcar com o próximo, me dei alta.

Pedro Lunaris disse...

sem contar que ele devia ser bem gatinho, né?

Priscila Carvalho disse...

A foto é no meu orkut, amore.
Olha só, hoje é niver da minha mana e eu não vou poder ir no futebol, mas na segunda que vem contem comigo, viu?
Bjos

alice disse...

pensando bem, não gostei desse meu texto.
blergh.

carol de marchi disse...

Pensando bem, vai tomar no cu, porque o texto estah otimo. E isso vem de mim, a que escreve "colocando os cronistas da zero hora no chinelo" segundo criticas qualificadissimas.

Entao, olha o respeito.

Pedro Lunaris disse...

pensando bem, sabe que tô precisando de terapia? e tô com uma saudades do meu terapeuta... é um cara bem legal, que faz massagem na gente (e até que é gatinho, então não conta pra Cari, tá?). acho que vou dar uma ligada pra ele ainda essa semana! só tenho medo de não ter grana... ah, seu capitalismo... me dê um trabalho de pouco esforço, muito divertimento e um tanto de dinheiro!

heheheheheh

beijíssimo!

carilevi disse...

pensando bem eu não preciso de terapeuta..
amanheci taaaoooo bem hj!!