4 de setembro de 2006

Pequena Morte



O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta
uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
enquanto vida houver.

Ninguém é pai de um poema sem morrer.


Manoel de Barros - Arranjos para assobio

3 comentários:

carilevi disse...

no poema faço
o que não posso
digo
o que não falo
penso mais
do que devia
e um pouco saio
satisfeito
mesmo que inútil

Marília disse...

me faço poesia e abro as cortinas da casa - por onde entra o ar para sacudir as mesmas velhas coisas...

Pedro Lunaris disse...

o poema
sai com a gente
sem que esquente
a utilidade
do jeito inerte
da pessoa
em febre
de corpo
em dono
de si

o poema não tá nem aí