22 de maio de 2007

Das despedidas


Caminho sozinha pelas ruas de Barcelona. Fui frustrada por um mal-entendido que me fez ficar 1h esperando de pé na frente da Champanheria, tendo de ver dezenas de pessoas se embebedando com cava buenisima e barata e se empanturrando de entrepans suculentos. Vou, então, de volta à cidade velha e de repente me vejo triste. Investigo intimamente minha melancolia. Saudades antecipadas de alguém que eu teria de deixar na tarde seguinte, quando seguisse ao aeroporto para partir? Não. A Carol eu veria em breve, fosse no Natal ou no ano que vem. A família eu veria em poucos dias, no Brasil. Os amigos de lá, esses estavam em seus lugares, como sempre, saudades já esgotadas nos reencontros desses dias. Tristeza em voltar a Porto Alegre? Ou mesmo em estar encaminhando-me ao Rio, cidade nova, estranha? Não. Ao invés disso, um prazer me vem ao lembrar dessas duas queridas cidades brasileiras. Talvez seja algo mais subjetivo, o desânimo de retornar à vida de obrigações e compromissos que afinal eu escolhi. Mas nada disso revelou-se como motivo convincente.
Sinto, isso sim, um impulso praticamente incontrolável de abraçar o chão. É isso. Quero abraçar a cidade. Olho os prédios da via Laietana, nem tão charmosos assim, mas os amo. Amo cada pedrinha da carrer Ferrán. Amo os loucos e bêbados da Plaça Reial. Amo até mesmo o catalão. Ora, deixar Barcelona não foi fácil na primeira vez. E muito menos o é agora.


Vai ver Barcelona é esse amor do passado que ficou mal resolvido. Nunca tivemos tempo de enjoar uma da outra. Acabou mal acabado, porque eu sempre tive que ir embora. Eu o quis. E agora, quando a gente se reencontra, é apenas por uns dias. O gosto de quero mais fica na boca. Quando estamos reacostumadas uma com a outra, eu vou embora. Ainda que a gente mude com o tempo, tem essa química que nos faz vibrar quando a gente se vê.


Quem sabe um dia consiga colocá-la em primeiro lugar na minha agenda da vida, e não apenas por um fim de semana. E aí possamos passar longas semanas juntas, fazer todos os programas que ainda não fizemos, viajar nos seus arredores, nos conhecermos melhor. Brigar, ter crises, discutir a relação. E aí pode ser que dure só por uns meses. Pode ser que tudo não passe de uma paixão fulgás. Mas pelo menos vai ter um fim bem resolvido, e deixá-la será mais fácil do que o é agora.


Ou não. Talvez esse em-a-ver alimente a prazeirosa vertigem de sempre querer revê-la.

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4 comentários:

Anônimo disse...

antes de conhecer Barcelona eu já sabia que a amaria. e no instantes em que coloquei meus pés nela meu corpo inteirinho tremeu e eu pensei: é aqui o lugar!
A amo também, e me identifico com as tuas palavras integralmente.
Eu sempre digo que essa cidade tem uma magia, algo que nos prende. Fácil, fácil amar, mega difícil deixá-la.

Anônimo disse...

Vivo y "desvivo" esa ciudad todos los dias, pero aún no me acostumbro al olor suyo. Es que ¿como se puede conocer a algo que cambia tanto? El movimiento, la dinámica, el paso, el caminar, el avanzo... si intentas acogerla, no lo puedes. Lo mas raro y tambiém mas evidente es la falta de retraso.

cintilante disse...

acho que a última frase já mostra o que ocorre, de fato.
;)

carol de marchi disse...

Manametade deixa saudade,
saúda a cidade
saída sem vontade.

Quédame el paso de ayer,
llevas el encuentro de mañana
y, bueno, hasta luego, hermana!