16 de fevereiro de 2009

Os descaminhos do doce de doce deleite




Quando me perguntam o que é, afinal de contas, cartografia, digo que é bem diferente de receita de bolo. Mas comparado a quê?
Se tens alunos e queres um bom exemplo, aqui vai ele.

Tenho uma receita da sogrona em mãos, pra fazer uma deliciosa torta de doce de leite gelada.
Eu nunca fizera nenhum doce (se estivermos de acordo que negrinho de panela não vale).
Desde meu retorno ao Rio, por algum motivo, me pus mais mestre cuca. Aproveitei o embalo.
Olho os ingredientes, todos fáceis de conseguir. Só falta a batedeira.

Peço no vizinho, nada. Vou ao andar debaixo. Ouço música eletrônica. A porta da cozinha se abre, o que faz eu ter de me deslocar da frente da porta da sala para o outro lado do corredor, e então me apresentar e pedir o utensílio doméstico. O vizinho veste preto, tem certa maquiagem no rosto e vejo que seu figurno é uma mescla de clubber com folião. Ele me alcança a batedeira e ecrescenta, sorridente: "tem que segurar aix paix, porque elas de vez em quando soltam". Ok.

Saio em busca dos ingredientes, coisa que no super ali debaixo encontraria.
Bolacha Maria de chocolate: não.
Nata: não.
Doce de leite: não.
Vou ao outro super.
Bolacha Maria de chocolate: não.
Nata: não.
Doce de leite: sim. Um pote enorme.
Falo com um funcionário sobre a bolacha e sobre a nata, tem de ser nata, que é mais cremosa, e não o creme de leite líquido. É uma cliente que descreve a embalagem da nata, uma espécie de garrafinha - que eu tinha visto no primeiro supermercado, mas suspeitara ser líquido, visto que dizia "creme de leite" e, well, vinha numa garrafinha.
O funcionário me sugere levar um outro bixcoito, esse é bem goixtoso, não é muito doce não. A caixa me pergunta se eu já provei aquilo (bixcoito) com café com leite. Uma delícia. Eu digo que é pra uma torta de doce de leite. Ela pára, olha pra moça que ensacola as compras, "ó, ela tá inxpirada, aê."
Volto ao primeiro super, compro a nata em garrafa, que afinal de contas é cremosa e pesada.

Consigo a façanha de separar 7 claras de suas respectivas gemas, mas fracasso no último ovo, cuja gema ainda consigo tirar mas parte dela se espatifa e se espalha na minha perfeita bacia de claras. Lá vou eu catar vestígios de amarelo no caldo transparente pra assegurar que a clara ficará firme.
A batedeira é mesmo um caos. Nas primeiras três tentativas é impossível manter as pás encaixadas. O Danichi então segura uma das pás, queima os dedos, tentamos de novo, conseguimos. Com as claras e com a gema.
Dou-me conta que a receita é enorme. O creme exige um esforço grande do meu bíceps para ser misturado. A clara que tinha ficado firme deu uma desandada: parte dela liquefez-se. Bato com a batedeira capenga, com sucesso.
Misturo tudo e vejo que não há pirex grande o suficiente ou que caiba no congelador. Dividimos em dois potes.
Provo, não gosto. A nata é muito forte, eu sabia!
Mari prova, gosta. Danichi prova, gosta. Marceu prova, gosta. Talvez seja eu.

Hoje experimento o doce, já na textura ideal. PERFEITO! DELÍCIA!!!!

Dona Denise, obrigada pela receita. Alice, parabéns! Você acaba de virar doceira.






6 comentários:

carol de marchi disse...

campia pia pia!

Anônimo disse...

é um doce essa alice...

Paula disse...

e eu acabo de me tornar cartógrafa..
depois de anos. lejos..
pode ser?

carilevi disse...

que delicia!! guarda um pedacinho pra mim!

Donnassolo Beschi disse...

corporações MU-MU, de bandeja:

"mu-mu: um doce deleite"

Donnassolo Beschi disse...

hmm, e como é mesmo o carnaval daí..? conta de novo...