8 de setembro de 2009

dissertando III



A Avenida Atlântica é arranhada pelos veículos em aceleração. Faço parte desse vandalismo com meu próprio arranhão, a caminho de algum lugar. Vejo a larga calçada de Copacabana e suas imóveis ondas alvinegras de pedras portuguesas pisoteadas por passos também velozes de tênis importados. Tênis que precisam ter cada vez mais amortecedores, que por sua vez amortecem mais do que passos: amortecem sentidos também. Tênis que caducam no ritmo da incessante corrida em perseguição do novo, assim como as milhares de mercadorias produzidas desenfreadamente todo dia. Ritmo impiedoso que varre consigo a intensidade da experiência (PÉLBART, 2003).

Do outro lado do passeio público, mais além das ondas em preto-e-branco, o mar dá a sua resposta: sob a luz implacável do sol, as ondas ali têm cor. São azuis. E quebram, intensas, em um plácido e intenso movimento, totalmente alheio à pista de piche. Convocam a uma sensação que não raro incomoda os motoristas dessa cidade que não suporta sequer um segundo da luz vermelha do semáforo (“cariocas não gostam de sinal fechado”, canta Adriana Calcanhotto no rádio): convocam à sensação de duração. Para acompanhar a queda de uma onda se faz necessário desacelerar, ou mesmo parar.

Subversivo, o mar está sempre em câmera lenta.








Um comentário:

cintilante disse...

vai-e-vem o mar
e nem sempre pede que o acompanhemos