15 de novembro de 2008

a merda adubou




mas isso, esse gesto, essa força, é foda demais pra dar espaço ao ensimesmamento, à lamúria, ao congelamento, constrangimento, à falta, ao cocô-não-adubo.

não, não, o que se deu ali deu nos meus dedos, nos dedos de muitos e muitas, foi um golpe violento no ressentimento e na memória saudosa ou esperança ingênua por tempos melhores e fez de lembranças incômodas motor de ineditismos que irromperam nossas peles.

tal qual o Fuganti nos falou, é preciso que a gente deixe de ser piedoso e possa fazer de nossos mais fortes afetos, POR PIOR QUE ELES SEJAM, memória de futuro, COMBUSTÍVEL pra vida, pra afetos ativos e não reativos, pra criação, pra vida como obra de arte. Já não vi mais mané urubu, e só ouvi cantos de sabiás.

tive aliados, estranhos aliados mesclados a velhos amigos. a afirmação disso se fez tão inchada que foi como o ápice do evento, o orgasmo, o pico. uma ou outra coceira foi esquecida. a agonística era tão grande que historinhas eram fragmentos de uma vida gorda, uma vida espessa. vidas. locais em que vidas e suas fronteiras se tocavam, já não eram mais bordas, as bordas forram corrompidas. e existências urravam com voz de possível ali, se efetuando, bem na nossa frente, bem nos nossos colos.

ja não era alice com um outro, alice com o mestrado, alice com suas historinhas, mas alice com alice, alice com o mundo. A Lóri, personagem da Clarice, uma vez disse: Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só.

eis que um prolongamento do mundo de repente é claramente eu, dobra, também matéria-prima desse mundo. não desse "mesmo mundo", porque ele não é o mesmo. ele é cada vez um, e não tenho medo de me saber uma das criadoras dele.

eu, meus caros, posso dizer:

hoje eu fui muito mais do que eu.

talvez hoje


eu tenha sido mundo.





5 comentários:

Anônimo disse...

é oxum!

Marília disse...

Amiga: tuas palavras são de uma potência tão nua que o link "comentar" ressoa quase como irônico. Não me parece um texto de comentar, mas de sentir. Ressentir. Des-sentir. E viver, simplesmente. Porque belo.

cintilante disse...

faço minhas as lindas e sinceras palavras do comentário acima e acrescento somente um sonoro: WOW.

carol de marchi disse...

idem.

Super disse...

é contagiante
alice-mundo

nos tocando com teu texto
nos fizeste do teu mundo, parte

aquele abraço