Estava no calçadão de Copacabana, a vi de costas, pela janela da van que ia na direção do Leme.
Vindo para Ipanema, dois surfistões, barba por fazer, óculos esportivos, ambos montados em suas bikes, andavam em veocidade.
Pude, no que aconteceu a parada da van, forçada pelo engarrafamento, ouvir de leve. O som foi baixo, mas a gesticulação dos lábios dele foi fenomenal. Encheu a boca e disse pra moça: "Mas que coisa mais linda que você é", em um quase sorriso.
Só depois é que percebi a reação da moça - assim como atrasada foi a percepçao dela de ter sido cantada. Ela virou o pescoço, talvez incrédula, seu rosto beirando o narigudo. Era bastante pálida-sem-sal. Sorriu. Pela primeira vez vi uma mulher ser cantada, no meio da rua, com um tiro desses, cara-de-pau, e sorrir de presente para todos os eventuais espectadores em seus carros parados na Av. Atlântica.
O movimento dela já engatou num giro de corpo e ela atravessou a rua. Percebi que o sorriso teimou ainda a sair da face.
Talvez o surfistão tenha conseguido o que queria. Talvez ele seja, por isso, o ídolo de seu amigo e de tantos homens, que, supõe-se, querem que um dia algum efeito (fora caras de desprezo e a total indiferença) seja produzido com suas cantadas na rua.
Vindo para Ipanema, dois surfistões, barba por fazer, óculos esportivos, ambos montados em suas bikes, andavam em veocidade.
Pude, no que aconteceu a parada da van, forçada pelo engarrafamento, ouvir de leve. O som foi baixo, mas a gesticulação dos lábios dele foi fenomenal. Encheu a boca e disse pra moça: "Mas que coisa mais linda que você é", em um quase sorriso.
Só depois é que percebi a reação da moça - assim como atrasada foi a percepçao dela de ter sido cantada. Ela virou o pescoço, talvez incrédula, seu rosto beirando o narigudo. Era bastante pálida-sem-sal. Sorriu. Pela primeira vez vi uma mulher ser cantada, no meio da rua, com um tiro desses, cara-de-pau, e sorrir de presente para todos os eventuais espectadores em seus carros parados na Av. Atlântica.
O movimento dela já engatou num giro de corpo e ela atravessou a rua. Percebi que o sorriso teimou ainda a sair da face.
Talvez o surfistão tenha conseguido o que queria. Talvez ele seja, por isso, o ídolo de seu amigo e de tantos homens, que, supõe-se, querem que um dia algum efeito (fora caras de desprezo e a total indiferença) seja produzido com suas cantadas na rua.
*
Assim que desci da van e atravessei a rua, um velhinho veio na minha dreção. Quase fugi dele, afinal, quem era ele pra atravancar o meu caminho. Fixou o olhar, enquanto eu o ignorei. Disse, como se estivesse num salão de baile: "Olha, que bonitinha!" E abriu um baita sorriso, como se não se importasse com o gigante tabefe imaginário que proferi na cara dele.
Não consegui seguir braba. Aliás, o tabefe eu dei antes dele falar qualquer coisa, porque de fato ele parou e fez um elogio. E ponto. Comecei a rir. Não como aquela moça de cinco minutos atrás. Ri porque achei engraçada a desenvoltura do senhor. Foi de uma estranha cara-de-pau ingênua. Ri, não porque achei desprezível, e nem porque fiquei nervosa, e nem porque achei bonitinho.
Ri porque ri, ora. Ri porque...
Ah! Essa Copacabana...
Não consegui seguir braba. Aliás, o tabefe eu dei antes dele falar qualquer coisa, porque de fato ele parou e fez um elogio. E ponto. Comecei a rir. Não como aquela moça de cinco minutos atrás. Ri porque achei engraçada a desenvoltura do senhor. Foi de uma estranha cara-de-pau ingênua. Ri, não porque achei desprezível, e nem porque fiquei nervosa, e nem porque achei bonitinho.
Ri porque ri, ora. Ri porque...
Ah! Essa Copacabana...